terça-feira, 30 de junho de 2009

Chuva de Verão

A manhã de sábado estava bonita, com sol e temperatura agradável.

Como de costume, ela, zelosa com a casa, transformou a desordem em ordem. Fez uma hidratação no cabelo e se colocou em pé diante do guarda roupa. Aproveitou para experimentar vestidos mais antigos, mas de pouco uso, ainda na moda, para testar o manequim, que graças a Deus, continuava o mesmo.

Depois de considerar a idéia que precisava mudar de cor preferida, (sua cor preferida era o preto), deixou tudo que era preto de lado e colocou sobre a cama algumas opções. O baile era as 10. Verão. Poderia usar algo curto, mas optou pelo decote. Um estampado floral amarelo e preto, tomara que caia, com uma faixa na cintura, caimento bonito, realçava o bronzeado... Um Rosa, frente única, definia a cintura, ocultava os quadris, algo sensual... Azul Royal. Tinha usado apenas uma vez, no dia de seu último aniversário. Vestido de tecido deliciosamente fino, o que transformaria o toque do seu cavalheiro muito íntimo e na hora da dança correria o risco de os pensamentos voarem para outro ambiente que não fosse a pista de dança. Teria o restante do dia para decidir. Estava feliz.

Entardeceu. Alguns relâmpagos anunciavam a chuva do final da tarde. As horas demoravam a passar. Já haviam se falado duas vezes ao telefone, para garantir um encontro perfeito. Hora e local estabelecido, cuidou para não se atrasar. Ele passaria para apanhá-la às 10 e meia. Assistiu um filme, depois a novela das 7, o noticiário e a novela das 8, que na verdade começa as 9. Tomou seu banho no horário do noticiário e entre um comercial e outro, tentava escolher o vestido. Novela, capítulo interessante, se distraiu com a hora e quase 10, ainda tinha maquiagem e cabelo pra arrumar, sem falar da roupa, ainda não havia decidido nada a respeito!

Insegura com a vestimenta, optou pelo preto. Não tinha jeito. Preferência não se muda assim, de repente.

Preto, leve, comprimento nos joelhos, decote v. Uma corrente de prata, pingente de coração, brincos de cristal, anel grande no dedo médio. Maquiagem bem feita. Cabelo chanel, escovado em temperatura máxima no secador para garantir as pontas perfeitamente viradas para dentro. Perfume marcante, pela hidratada, gloss nos lábios, boca brilhante com a intenção de despertar desejo de beijos.

10 e 35. 10 e 40. Ele chegou atrasado. Ele não se desculpou. Ela nem considerou o atraso ao encontrá-lo do lado de fora do carro, esperando por ela que descia ansiosa as escadas da portaria do edifício. Um abraço. Ele elogiou o perfume.

Jazz no caminho para o baile. Ela achou descontextualizado, preferia algo mais definido, como música de Ana Carolina.

Já sentados em uma mesa, tocava salsa. As mulheres acompanhadas dançavam, as desacompanhadas sentadas olhavam apenas. Alguns homens, bons dançarinos, se revezavam, suados para agradar as solteiras e não deixá-las sentadas a noite toda.

Ela estava tímida, algo não estava bem. Ele frio. Olhava ao redor, evitava seus olhos.Sentados permaneceram por muitas músicas.

Num ímpeto de machismo, insensibilidade e indelicadeza, ele fez uma observação cruel, algo sobre sua personalidade, seu estilo, seu pudor.

Ela levantou-se, recusou a dança, nó na garganta deixou o salão. Chovia. A chuva retardou sua chegada naquele dia. Noite quente. Resolveu caminhar na chuva. Andou dois quarteirões. Suficientemente molhada podia chorar a vontade. Sua maquiagem certamente foi lavada. Seus cabelos encharcados, fios grudados no rosto... Caminhou por 30 minutos as duas da manhã.

Dormiu no banheiro aquela noite. Enrolada em sua toalha, no tapete macio, que adorava pisar com os pés descalsos. Dormiu no chão, só e fria. O gloss não provocou desejo. O vestido... os cabelos...

Foi correr! Tomou um café reforçado, calça legging, óculos de sol e foi correr no parque! Linda, sorridente, ouvindo Maria Rita no seu mp3. Despertou muitos olhares, encontrou pessoas, agendou um encontro para o fim da tarde com um amigo. Dançaram até as 11 horas da noite de domingo, sem se importarem com a responsabilidade da reunião no primeiro horário da manhã de mais uma segunda-feira, entre as mesinhas do café, onde uma dupla de irmãos cantavam sambas do Chico. Vestia vermelho. Corrente de prata, pingente de coração. Continuava feliz.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Uma história de amor de verdade


Uma historia de amor de verdade é assim:

Dia 1: Ela olha pra ele, tenta disfarçar, mas passa um olhar não tão discreto pelo seu corpo, sua estrutura. Primeiro nos olhos e nas mãos, na seqüência observa os sapatos, a camisa, ouve o timbre da voz, sente o perfume, ouve atentamente os comentários, sente um traço de romantismo (o que traz alguma segurança), então permite alguma troca de comunicação que se inicia numa canção que juntos resolvem cantar.

Dia 2: Muita ansiedade, afinal a noite foi extraordinária. Vão ao cinema, filme nacional, riem e se emocionam com a história na grande tela, mas com as pupilas dilatadas olham profundamente um no olho do outro e em meio aos diálogos em surround, surgem beijos delicados e vez ou outra mais audaciosos. Decidem definitivamente abraçar a paixão. Nada sabem um do outro, apenas que se sentem muito bem respirando o ar entorno.

Um mês: É amor. Ponto Final.

E de tempos em tempos, como de costume algo de suas personalidades se apresenta como grandes animais pré-históricos aterrorizantes. Ela fala demais, ele é intolerante. Ela usa decotes, ele se irrita. Ela... Ele... Mas ai, quanto amor... Amor dói te avisaram? Avisaram sim. Aos dois. A vida não deixou passar despercebida tal incômodo, a da dor de amor. Mas amor também insiste, teima, dilacera o soldado que por puro amor a pátria, sem saber qual exata é a causa da guerra, desfalece em exaustão.

Na vida romântica haveria uma traição, muita lágrimas, um adeus. Mas não foi bem assim o final do ato primeiro desta história. O que houve foram berros, empurrões, palavras enormes, palavrões daqueles pesados, tempestade, ira, descontrole, cenas de tirar o fôlego dos vizinhos e apavorar os amigos que escutam a narrativa, independentemente do narrador e de sua versão.

Bem, como se trata de uma história de amor, tudo pode acontecer, senão não seria uma história de amor, mas um conto de fadas e, contos de fadas, são para fadas, príncipes e princesas, não para gente de corpo, alma e sentimento, especialmente sentimento. Depois de passado o entreato, composto de outras experiências para ambos os lados, nem perto de amorosas, apenas casuais, com direito a melodrama, tragicomédia e tragédia na mais absoluta e fidedigna interpretação, vem ela, a famigerada, aquela que dói mais que o amor: A SAUDADE. E cai. Cai lágrima, cai pressão arterial, cai o mundo, cai o desespero. Supõe-se nessa altura dos acontecimentos que nenhum deles tomaria uma atitude, mas como era de se esperar, a sorte apontou para ele e foi ela quem telefonou.

O reencontro deu-se primeiro na cama. Entre orgasmos e choro, a saudade consumou o ato. Um adeus, até breve, tudo incerto, nada nas mãos. Depois, o acaso permitiu uma segunda vez, num bar dançante. Ela estava simples, meio sorriso no rosto, o coração aos pulos. Ele lindo, cabelos prateados, ainda mais charmoso. Dilúvio. Dilúvio...

Tudo poderia acabar como na quarta feira de cinzas quando ela logo se lembrou que amá-lo era como carnaval e rapidamente sem fantasia, nem maquiagem, desceu aos seus pés com a humildade de uma santa e entrega-lhe sua alma cansada da saudade, pede a remissão, pede o abraço e se mostra vencida da inútil tarefa de desistir de amá-lo.

Ninguém sabe ao certo o final da história, mas como é uma história de amor, imaginamos finais felizes, com bolhas de sabão, chuva de arroz, caminhão de mudança, cruzeiro no Atlântico, talvez Pacífico, maternidade, batizado... Uma lareira, alguns netos, um cão... Duas mãos, a dele sobre a dela... Ou a outra opção: caminhão de mudança, viagem pela Europa, ou alguma Chapada dentro do país, banho de champagne, sexo, sexo, sexo, sexo, alguns netos, sexo, sexo, sexo, uma gato persa, sexo, sexo, duas mãos, a dela sobre a dele (no caso deles a primeira opção é menos provável pois são muito lascivos...). Bem, como se trata de uma história de amor, tudo pode acontecer.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ócio



O que é que o ócio faz com uma pessoa, héin?
Meu avô dizia que mente vazia é oficina do diabo. Morreu de enfarte o velhinho. Fulminante.
Eu já não concordo. Eu acho que a mente vazia é tudo de bom.
Imagine se você pudesse acordar e pensar assim: Eu não tenho conta pra pagar, não tenho que emagrecer ( portanto não preciso ficar horas naquela academia insuportável, suando feito uma porca gorda) Não tenho filhos pra cuidar. O que é que eu vou fazer? Bem, vou ficar horas andando pelada pela casa... Vou explorar todas as teclas do controle remoto da TV, depois vou à praia, tomo uma água de côco, admiro os surfistas, tomo sol, daí.. peço uma comidinha japonesa, daí...daí...bem, vou arrumar gavetas, organizar os cds, cutucar as cutículas, daí eu experimentava todas as possibilidades de roupas do meu guarda-roupas, daí... eu ia dormir e aí...aí... Ai que droga! Cansei!!!

Um cadilac amarelo para Andrea W.


Era um cadilac amarelo. Pelo menos foi assim que me contou, Andrea W.. O cadilac parou e ela entrou, no cadilac amarelo. Quem guiava era nada mais, nada menos que seu “ex”, (a pergunta que não quer calar – qual deles?) que em dado momento era alguém atual, nada passado, tudo presente. Eles conversavam e o cadilac os levava, o cadilac amarelo, para algum lugar. Para a grande surpresa de Andrea W., eles não estavam a sós no cadilac. O cadilac amarelo trazia alguém no banco de trás. Era um peso morto! Não defino assim por força de expressão, era realmente um morto. Isso causou a inconformação de Andrea W.. Onde já se viu transportar um morto! Isso é um serviço para um carro funerário. Não para um cadilac amarelo. Mas com a maior naturalidade, seu ex - em forma de atual - explicou que era apenas um transporte para que o morto pudesse ser enterrado em sua terra natal, a família aguardava ansiosa. Sendo assim, seguiram com o processo de despacho funerário no cadilac, no cadilac amarelo. O despacho propriamente dito era feito numa ampla, muito ampla, ampla mesmo, agência dos Correios e Telégrafos. Com o maior cuidado para que o defunto não se lascasse ou trincasse, mercadoria frágil. Para isso, Andrea W.,ser,sempre tão generoso, pra comprar metros e metros de plástico bolha e embalou com capricho o presunto para viagem, sem direito a freezer. Ficou estupefata com o preço exorbitante do sedex funesto que enviaria aquele que havia vindo do pó e ao pó voltaria. Irada sussurrou: - Enterre em qualquer lugar! Já morreu mesmo! Pra que tanto gasto e trabalho com um morto e ilustre desconhecido? Assim o peso/passado/morto seguiu selado, etiquetado e rotulado, foi despachado dessa pra melhor, ou pior. A estrada poderia ser seguida com ou sem o acompanhante do volante, bastava descer e seguir em frente. E desta maneira sumiria no horizonte rodoviário, o cadilac, o cadilac amarelo. Poderia ser um filme de David Lynch. Mas não, foi apenas um sonho de Andrea W.. não desses sonhos que se deseja, falo desses pesados, dos quais se acorda suado e sobressaltado de indigestão. Sonhos leves, doces e que são distribuídos gratuitamente, você pode encontrar em “Sonhos para Viagem”.

de César Póvero, (ousado narrador deste sonho não tão doce, mas com talento único em deixá-lo agri-doce!) Não deixe de conhecer: "Poeteria Crônica" cesar.povero.zip.net

Noah


Tenho um cão. Ele é lindo e tem um ar angelical. Sim um cão com cara de anjo. Se houvesse anjos cães, o meu seria um. Meu cão não me deixa triste, me salva do silêncio, me inspira, me convida a passeios. Está comigo, mesmo quando não estou com ele. Volto pra casa porque ele está lá e mesmo longe ele está em mim. Guardo sempre em minhas roupas alguns fios dele... Meu cão, deixa meu lar com mais jeito de lar. Me faz festa como ninguém me faz, tem uma maciez, um toque e seu perfume... é de cão feliz! Meu cão me ensina a brincar e me desperta sempre com muita alegria! Me olha com olhar de anjo, me cuidando, me vigiando, não se distancia nem mesmo ao encontrar Kirra, a cadela mais charmosa do bairro. Meu cão é fiel, fiel mesmo. Me dá beijos, me estende a pata e divide a mexerica mesmo quando está azeda. Fica comigo na cozinha e acha lindo me ver cozinhar! Implica com o aspirador de pó (acho que não deve gostar de me ver faxinando a casa), mas me admira no banho, me fita profundamente quando me vê lendo ou escrevendo. Ele desperta com meus simples passos calmos na madrugada e divide comigo minhas horas de insônia. Assiste novela, filme, noticiário... Meu cão me faz muito feliz e eu tenho uma imensa alegria em fazê-lo igualmente feliz. Estamos em paz, eu e meu anjo cão.



quarta-feira, 17 de junho de 2009

Segunda Feira



Tudo parou.
Uma espécie de feitiço paralisou minha vida
E então, meus dias ficaram enfumaçados, como um cenário de guerra.
Uma guerra longa e de duras batalhas, quase sempre perdidas...
Ora uma luta contra meus poros que se fecharam, me fazendo sentir como um corpo embalsamado, porque me recusei a morrer.
Ora uma luta contra o desespero, porque neguei a esperança.
E são muitas as noites que passo em claro, com eventuais lágrimas que teimam em escapar dos meus olhos e os malditos soluços que saem como um vômito, doendo o estômago e a garganta.
E a luta permanece com essa insistência em me matar, com os 20 cigarros que passei a consumir diariamente.
E meu coração que busca desenfreado por um amor que supere aquele nosso amor...
Um amor maior, mais profundo, mais constante, que faça de você uma simples e agradável lembrança.
Mas na madrugada, com os sinos da igreja que me fazem realizar que as horas passam, vem viva nas minhas células o teu cheiro e a tua respiração, posso até ouvir o teu coração que bate.
Não consigo desfazer da minha alma, cada momento, cada sorriso e cada conquista tua.
Fico me procurando em algum lugar do tempo e do espaço, pra ver se acho um fragmento meu onde não haja você.
É lindo se não fosse tão doloroso.
A dor de ter tido e não mais ter, de ter vivido e não mais viver.
E cada frase, cada atitude, cada pensamento, você está como uma mancha perpétua, se transformando em gripes e dores no peito, em alergias e crises de ansiedade inexplicáveis para os que moram do lado de fora...
E cada nova pessoa que passa por minha vida, me traz a esperança de superar a tentativa de amargura cruel que bate intoleravelmente no meu corpo.
Mais uma batalha vou pra guerra destemida, com sangue nos olhos... Tudo em vão, o feitiço não se desfaz e busco sem querer buscar, lutando para não lembrar, você.
As nossas músicas, que fazem parte do feitiço, tocam nas horas onde sorrio, para me roubar o instante da alegria.
E todas aquelas experiências engraçadas e tristes, que as pessoas trocam descontraídas nas mesas dos bares, me trazem na voz as nossas histórias de aventuras e de dor... Tudo maquiavelicamente, me faz reproduzir teu nome.
Rezo, peço, imploro a Deus. Faça-me amar. Amar loucamente um outro homem, um outro corpo, um outro beijo, uma outra alma, para me dar a chance de respirar, rir um riso de mulher amada, ter brilho nos olhos... Tira da minha estrada esta fumaça, do meu corpo as amarras, dos meus lábios a pronúncia calada, contida e sufocada das letras que ordenadamente correspondem ao nome que te chamam e que para mim representa felicidade.
E o tempo permanece, a semana, o mês e já quase três anos.
Não desisti ainda.
A guerra pode durar décadas, mas saiba o mundo, que apesar de tudo, não ergui a bandeira da paz.
Esta só será erguida quando meu novo amor chegar, quando feitiço acabar, porque vai acabar.
E você estará lá, num passado longe e feliz e eu vencedora e não vencida, vou sorrir, ver o sol, cantar e dormir, mesmo ouvindo os sinos que desta vez embalarão meu sono ao invés de me trazer angústia, e sem soluços, ouvirei meu coração bater e pensarei, amanhã é segunda feira.


este texto foi escrito em 2006... para uma linda e triste história de amor que vivi... Hoje passado, mas o texto cheio de sentimentos... se eternizou.

Sedução



Com certa dose de bom-senso, ela escolheu o tom do batom. Embora sempre usasse o dourado nos lábios, naquela noite preferiu o marrom. Nunca trocaria a tonalidade terra. Era pra deixar a boca um pouco mais vibrante. Uma nova fase, um novo momento, apenas alguns míseros costumes modificados. Pôs-se perfumada (o perfume sim, este era inédito, ainda sendo nacional, causava certo frisson) e sorridente, jogou embaixo da cama o pesadelo do amor do passado e saiu determinada a gargalhar dos acasos. E gargalhou e se derreteu com vinho e soube seduzir-se, apaixonou-se por si mesma... Quanto ao futuro, não resta dúvidas, haverá sempre dúvidas e cada dia se apresenta com uma nova surpresa, que se acaso não se manifeste ela faz questão de inventar, mesmo que a surpresa gere uma soma alta na fatura do seu cartão de crédito. Suas novas paixões no atual dia do calendário de 2009 resumem-se basicamente em vinhos, tango, 1 mg de rivotril e um certo cavalheiro que lhe proporciona algumas possibilidades secretas, que vai do casamento tradicional a coisas que não ousaria escrever neste pequeno parágrafo. O fato é que a dona se tornou a dona de seus sonhos e isto afastou de si o cinza e trouxe o marrom vibrante, não diria vermelho, porque o vermelho não combinaria com a pele morena clara de seu rosto, que se torna cada dia mais jovem, por ela acreditar verdadeiramente que é imortal.

Meu anjo


Eu tenho um anjo, minha mãe sempre disse pra mim que todo mundo tem um anjo. Eu queria poder falar-lhe. Meu anjo até deve me ouvir, mas eu é quem gostaria de ouvir sua voz. Costumava me fechar no quarto e criar um ambiente com velas e aromas, músicas e tudo que viesse a mente na tentativa de haver uma manifestação angelical. Certa vez cheguei a escutar o farfalhar de suas asas, perguntei seu nome e nada de resposta. Mas ele estava presente, pensava. O que ele teria a me dizer? Será que iria jogar uma porção de coisas na minha cara? Tipo: Toma cuidado com isso, com aquilo, com esse, com aquele porque não agüento mais te proteger!! Bem, proteger??... Ai ai... Ah meu anjo, se você pudesse me falar, o que me diria agora? Deveria tomar cuidado com algo ou alguém? Devo entrar nos trilhos? Talvez devesse sair dos trilhos... Aliás, estou jogando os trilhos fora e trate de trabalhar aí em cima, cuide bem de mim, porque vou me atirar de corpo e alma, viu? Onde? Se você existe e cuida de mim, você sabe a resposta. À Propósito gostaria de ouvir o som de suas asas novamente...

Destino...


Quando eu era menina, eu já chorava por causas desconhecidas e me emocionava com acontecimentos que não tinha a menor noção do que de fato significavam, se eram reais ou não. Meu pai costumava me cantar uma canção sobre um sabiá numa gaiola que fez um buraquinho e voou e deixou a menina triste chorando. Eu me emocionava com isso, de verdade. Parecia que era comigo, já sofria de um abandono inexplicável naquela época, parecia que profetizava algo...
Brincava de ser outra pessoa. Sempre, diariamente. Incorporava madames poderosas, mocinhas apaixonadas, velhinhas caducas, professora cheia de paciência e protagonizava com meu Manequinho ( um boneco que tinha pipi) uma mãe afetuosa que sempre estava grávida de uma menina... dava de mamar com meus próprios projetos de seios... Gostava de cantar, de dançar e de brincadeiras de rua: mamãe polenta, amarelinha, polícia-ladrão...
Deus se manifestou em minha vida pela primeira vez (que eu me lembre) aos 6 anos, uma loucura que se eu contar ninguém vai acreditar. Foi um lance no teto do meu quarto, entre os reflexos das luzes do abajour vermelhinho que minha mãe deixava aceso pra que eu não ficasse no escuro. Eu detestava escuridão. Lá eu falei com Jesus.
Estudei com freiras, época de ditadura, do amor livre, do desquite em série. Nem vi meus pais se separarem, nasci assim, com eles separados. Só algumas fotos me fazem acreditar que fui fruto de amor. No entanto, fui banhada de amor. Por ambos. Pai e mãe indiscutivelmente maravilhosos.
Nada mudou muito desde então. Continuo chorando em trilhas sonoras, em filmes, em cenas de novela, em notícias trágicas do Jornal Nacional. Brinco constantemente de ser outra pessoa, me tornei professora, amamentei meu filho...Tenho um casal, veio apenas em ordem inversa, a menina nasceu antes. Ao primeiro acorde de um samba, já saio no molejo, adoro dançar e danço sempre que tenho vontade!! Choro ainda certos abandonos que colecionei ao longo dos 38...quase 39 anos que vivo. Continuo falando com Deus, d i a r i a m e n t e, embora já não mais no teto do meu quarto.. . Aprendi a lhe dar com a escuridão, aprendi que meus pensamentos é que me iluminam. Ainda tenho sonhos, muitos, mas confesso que ando preferindo surpresas boas. Atenta, espero que cheguem.

Sobre mim

Não gosto de mentiras , de cebolas em pedaços grandes na comida e sábados com chuva. Prefiro petit gateou, cachoeiras e música do Chico. Gosto muito de dançar, cantar e rir aos prantos. Minha arte, acolher os outros. Minha força: DEUS. Meus defeitos... Depende do ponto de vista. Segundo meus filhos, mania de limpeza, segundo meus pais, teimosa, os meus alunos, perfeccionista, o meu diretor de teatro, preguiçosa, minhas amigas, careta e perua, segundo os ex, romântica demais, segundo eu mesma, preciso sempre emagrecer.
Dizem que a vida começa aos 40... Daqui um ano começo a viver e talvez essa minhas definições sofram alguma alteração, mas enquanto isso quero a “felicidade beijando a minha boca com sofreguidão e o amor fazendo bagunça em meu coração”!