quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Nenhum


Lembrei que sou humana. Deitei-me na cama, um livro nas mãos e a luz acesa. Queria ler, na verdade queria dormir, mas percebi meu humor alterado, então, no segundo entre abrir o livro e me ajeitar no travesseiro, me perdi na reflexão dos porquês. Por que estou há um mês doente, gripada com a garganta inflamada? Perguntei a mim mesma o porquê não durmo sem remédio e por que ando comendo como uma retirante. Por quê não tenho escrito mais nada. Será que não escreverei nunca mais? Fiquei imaginando as palavras na sua devida ordem, inspiradas em algum acontecimento... Mas qual? Minhas idas ao médico? Os antigripais e as conseqüentes dores no estômago? Ah, que assunto mais desinteressante. Ninguém quer ler sobre doenças e gripes sazonais, processos alérgicos e faringites causadas por voz mal colocada em uma sala de aula de sétimo ano que insiste em me enlouquecer. Queria ter mais inspiração. Queria ter alguma coisa mais intrigante, mais emocionante para contar... O fato é que a maré não está para peixe. Nem mesmo para conchinhas. Onda vai onda vem. Nada. Tudo bem, alguns trabalhos significantes, mas a garganta inflamada. Filhos felizes e tosse alérgica. Amigos reunidos, meu nariz congestionado. Sem cinema (no cinema tem ar condicionado, sem chance). Chuva lá fora corresponde à friagem... Credo, até mesmo doentes terminais demonstram mais expectativas com a vida que eu. Amo a vida, não tenho dúvidas. O problema todo é que tenho complexo de mulher maravilha. Acho que posso voar sobre o céu de Nova Iorque, ficar invisível, salvar a humanidade... Não envelhecer... Viver sozinha. De repente, não mais que num instante, adoeço. Isso me obriga ao recolhimento e consequentemente à reflexão. Sou mãe, sou dona de casa, sou professora, sou filha, sou consumista, sou ansiosa, sou exigente... Sou frágil, sou de carne, osso, coração e, às vezes sou lágrima, sou vírus, sou pressão baixa, pressão alta, sou nostalgia, sou solidão. Dentre todos os porquês, um onde. Onde está o amor? Onde está o perfume do meu amor? Onde está o abraço, os braços, a boca, o gosto do meu amor? Onde andará o meu amor? É... Ao contrário do que afirmava, espero. Espero este amor sim, por mais que afirme que estou preparada para caso ele não chegue... Mentira, mentira das bravas. Retiro esta afirmação. Não quero desencontrar este amor. Não quero o lado direito da cama vazio, nem mesmo me encolher no edredom quando a noite estiver fria. Sou Andrea, mulher, fico doente, tenho TPM, me sinto menos às vezes (eu disse às vezes). Não quero voar. Quero sonhar acordada, não quero ser super herói. Quero ser salva, não quero ser ética e quero fazer meus truques quando necessário. Quero coragem. Coragem para me despedir daquilo que fui obrigada a contratar. A roupa de invencível, a máscara de resolvida, a ilusão de imortal. Sou de carne, osso, alma, desejo, sonhos, sentimentos (nobres e perversos). Funciono a energia eólica. Ar, muito ar nos pulmões para suspiros de amor, de saudade, de prazer, de emoção. Humanos respiram.
Com licença, preciso do meu naridrin, tenho o nariz entupido. Até mais.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Nada fica em seu lugar


Nada fica em seu lugar.

Após dois dias de alegria inexplicável, sem razão, sem acontecimento, sem um beijo de amor ou dinheiro extra que pudesse justificá-los, percebi que já estava na hora de sair do meu inverno emocional e acompanhar a temperatura dos dias ensolarados que estamos vivendo. O inverno serve para isso mesmo, para as pessoas se recolherem, refletirem... É um momento de introspecção. Estamos todos mais agasalhados, mergulhados no nosso mundo, aguardando quentinhos, um sol que venha nos despir novamente, trazendo novas idéias, novo humor, novos horizontes.

Ontem a noite estava quente. Eu estava com o sol na mão e estrelas nos olhos.

Fui para cama depois de encontrar pessoas, ouvir música, dançar um pouco, com a mesma alegria dos dois dias atrás. Acho que antecipei minha primavera. Tem uma semente aqui dentro do meu peito começando a germinar. Na tentativa de manter a ordem no meio do caos, durante o inverno, fui avançando os dias, tentando arrumar minha cabeça como se fosse meu guarda–roupas. Como se minha mente tivesse uma gaveta para roupas íntimas muito bem arrumadinhas, separadas por cores, outra para blusinhas brancas e outra para as pretas um pouco maior (eu gosto de preto) Casacos pesados pendurados da esquerda para direita, na sequência camisas, separadas novamente por cores. Incrivelmente há apenas uma camisa preta no armário. Os vestidos e as saias estão no canto direito e entre camisas e vestidos, as calças. Na prateleira de cima, as botas. Um armário à parte para as sandálias. Última gaveta para as camisolas... Que não estão sendo usadas. Ando dormindo de pijamas. Mas minha cabeça, definitivamente, não mantém a ordem desejada! Misturo as camisolas com as botas, um horror! E a briga continuou por este longo e frio inverno (Redundância? Não. Frio mesmo, põe frio nisso). Fiquei tentando arrumar as coisas, tentando rearranjar a ordem, tentando ver alguma beleza na estética entre saias e calças. Rejeitando casacos antigos, querendo jogar fora peças de muitos invernos atrás. O problema é que esta ordem funciona muito bem para armários de roupas, despensas de alimentos, geladeiras e arquivos, mas na minha cabeça, não.

O importante é que nada ficou no lugar. Porque assim eu vou tentando sempre. Mudo a direção. Mudo as gavetas e troco as botas de lugar sempre que posso. Passo as camisolas para a gaveta de cima e desordeno as roupas íntimas. Misturo um pouco as blusas e encontro mais graça em novas combinações. Descubro que não mandei embora o vestido do último verão e anseio em usá-lo novamente!

O importante é que a temperatura sobe, o sorriso aparece, a semente sai do chão.

Ainda hoje vai chover. Talvez esfrie no feriado. Mas hoje o dia continua quente. Estou com estrelas nas mãos e o sol nos olhos. É... Nada fica em seu lugar.