quinta-feira, 23 de julho de 2009

Portão 5- Lagoa do Taquaral


Hoje fui ao circo. A última vez foi há uns 15 anos atrás, quando minha filha era uma menina e não poderia deixar de apresentá-la aos trapezistas e ao palhaço,apesar dela morrer de medo de palhaços. (eu estraguei o aniversário dela de dois anos ao contratar um palhaço para animar a festa). Fui despretensiosa, com uma amiga. Um programa inocente, daqueles pra desintoxicar as barbaridades da vida. Logo na chegada, um fila imensa! Fiquei preocupada, pois queria me sentar num bom lugar, onde não houvesse travas de iluminação atrapalhando minha visão. Entramos eu minha amiga Lu. Um cheiro irresistível de pipoca e assim pegamos mais uma fila, desta vez menorzinha para comprar as fichas da pipoca e outra para pegar as pipocas e mais outra para os refrigerantes. Trocamos três vezes de lugar, até nos sentirmos mais confortáveis, sem travas ou adultos enormes na nossa frente. Música pop brasileira, daquelas que dá vontade de levantar e dançar cumpria o papel de manter a platéia animada até que o espetáculo começasse. Passados alguns minutos, quase instantaneamente eu e Lu perguntamos: Vai demorar? Rimos muito! Parecíamos duas crianças, esperando o começo do grande espetáculo. Imaginem : Eu 39, ela 37, ansiosas com um saco de pipoca numa mão, o refrigerante entre as pernas enquanto a outra mão conduzia a pipoca na boca. De repente a voz de Marcos Frota avisa que em cinco minutos daria início ao grande evento. Pensei que cinco minutos era muito, mas nos distraímos com a platéia animada da instituição de Padre Haroldo e começamos a contar nossas experiências com trabalhos sociais (a Lu também é arte-educadora) e, bem na hora que a conversa estava boa, entrou O PALHAÇO. Ri. Ri muito, achei lindo, delicado, inocente e ao mesmo tempo fiquei triste e me peguei pensando o quanto o mundo precisava daquilo. Do lirismo, da simplicidade, do riso inocente e gostoso que anda na contramão dessa cultura de riso “stand up comedy”, onde sempre é necessário um discurso machista, ácido, crítico, que nos confronta com a realidade. Não desmereço esses comediantes, muitos são muito talentosos e inteligentes, mas senti uma nostalgia inexplicável. Uma saudade de rir por rir, sem pensar, sem tirar sarro da sacanagem em que vive a sociedade. E o espetáculo prosseguiu com malabaris, tecidos, acrobacias, trapezistas, um show de jovens talentos do circo. Emocionei-me com tudo. Não era um circo de grandes efeitos visuais, mas efeitos emocionais. Limpo, honesto, juvenil. Vi a virilidade e a beleza nos artistas (confesso que não me escapou certo olhar malicioso diante de tantos músculos). Vi o talento de um deficiente físico arrancar aplausos. Ouvi o depoimento de Marcos Frota, sua luta em manter viva a cultura circense. Foi assim minha noite no circo. Linda, doce, infantil. Como sabem, sou atriz e nunca fui tiete de artista nenhum, acho deselegante até! Mas hoje não resisti. Atravessei o picadeiro e antes que ele entrasse ribalta adentro, pedi-lhe um abraço. Não disse nada, apenas pedi licença para lhe dar um abraço. Queria que ele sentisse um pouquinho da emoção que havia me passado. Tirei fotografia com o Marcos Frota. Eu não acredito até agora que fiz isso! Mas fiz. Minha primeira noite de tiete. Vou dormir feliz. Fui ao circo e vou ficar sonhando com o dia de ir novamente. Mais um sonho para minha coleção...


"Teatro-Educação"


Respeitar os saberes, a pluralidade do universo, o tempo, as necessidades da vida de cada um, é a tarefa mais grandiosa do educador. Tratamos de educação quando visamos atingir o ser humano, seu papel no mundo e na sociedade, seu bem estar físico e emocional, sua autoconfiança e sua sensibilidade. Inserir o teatro nesta perspectiva, nesta luta como arte viva, explorado em todas as suas diversidades, retirando do mundo e da sociedade material para construí-lo, investigando e respeitando as relações humanas, seria lançar mão da definição do dramaturgo e criador de O Método, Stanislavisky, que diz que a arte dramática é a capacidade de representar a vida do Espírito Humano em público e em forma artística.Creio de todo meu coração que o Teatro na Educação, seja um dos instrumentos potenciais que favorecem uma prática educativa mais triunfante, porque um aluno/ator precisa respeitar o ideal do grupo, assim se desenvolve e cresce passo à passo nas atividades, retomando valores e estabelecendo a afetividade e o prazer na convivência da comunidade escolar, adquirindo instrumentos intelectuais, morais e éticos, necessários à sua formação de ser humano e de cidadão.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Um caso de amor...


Fraquejei. Quando quis gastar apenas com um par de sapatos e comprei dois. Fraquejei por achar que ambos mereciam bolsas. Inverno merece perfume mais forte, maquiagem mais marcante e assim caminhei rumo a uma conhecida e elegante perfumaria. Casacos novos, dois. Deixei o terceiro de lado. Sucumbi à inveja ao abrir uma revista de moda, que não habituo comprar e foi apenas o acaso da tediante espera na sala do terapeuta que forçosamente me fez tocá-la, e me deparar com lindas mulheres ousando poses com botas, shorts e blusas decotadas. Rapidamente me questionei se não seria um exagero andar daquele jeito, justo eu que não mostrava os joelhos. Foi desta forma que fraquejei. Numa tarde de sexta-feira, fechei as abas do computador e fui às compras. Comprei dois deles (dos shorts), de uma só vez. Deixei as blusas de lado, preferi as botas. Uma preta e uma marrom, com mesclas douradas. (???!!!!) Agora eram quatro. Quatro pares de sapatos... Já havia comprado um sapato estilo retrô, salto alto, uma belezinha... Usaria com qual vestido? Foi outro preto para variar. E pérolas! Três colares de pérolas, sintéticas é claro. Além das tradicionais, também trouxe vermelhas e prateadas. Com isso, os brincos não ficaram de fora. E assim fui me presenteando, com a consciência da alta soma a ser gerada na fatura do cartão no mês seguinte. Certa culpa... Na verdade, muita culpa. Na semana seguinte nem fui à terapia. Morri de medo de ter que esperar pra ser atendida e abrir uma nova edição daquela tentadora revista. Na verdade, morri de medo de contar para o terapeuta à loucura que havia cometido. Não sou da classe social que pode gastar sem pensar. Definitivamente, não sou. Mas acho que a graça é exatamente essa. Indecifrável sensação se presentear assim. Depois da culpa a gente fala a perigosa e satisfatória frase: Eu mereço! Ficamos provando as roupas em frente ao espelho, tentando encontrar diversas combinações. Planejando em qual evento usaremos e se não há nada em vista, a gente inventa. Pega o celular e cria situações para usar e abusar do perfume, das roupas, dos casacos, dos sapatos e da bolsa charmosa (o duro é decidir qual das duas)... Lembrei da lingerie (como pude esquecer???) e sem fazer direito as contas orçamentárias do mês, vou à escolha de pelo menos um parzinho delicado de calcinha e sutiã, na dúvida entre as cores, levo dois. E assim ousamos. Fraquejamos, mas sempre nos perdoamos no final. Eterno caso de amor. De amor-próprio. Que tudo perdoa, tudo compreende e tudo suporta, ainda que mereça exaustivas horas extras no trabalho pra compensar!

Tirando a terapia e meu enorme amor-próprio, o restante do texto é ficção, mas confesso que já fraquejei muito nessas condições!! Crônica escrita para revista "Compre" São Paulo, segunda edição!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Mosaico

Mosaico... Tudo o que eu queria era ter uma história pra contar. Eu tenho uma história pra contar. Embora sem um final, sem um ponto alto... O inacabado não determina o ponto alto, talvez seja bem no fim ou no meio... O importante é que a minha história começou. Composta dos meus sonhos, dos acontecimentos que experienciei, das idéias que tenho e que realizo, dos desejos que ficam parados em algum lugar para um dia se realizarem ou se eternizarem apenas em sonhos e, como sonhos, permanecerão.

O próximo baile


Cheguei absolutamente cansada. Era manhã, na verdade madrugada. Apertei o botão do elevador exatamente às 05h27min. Meus pés estavam doídos. Meus cabelos cheiravam cigarro. Olhei meu rosto no espelho do hall de entrada e me vi desfigurada. Maquiagem fosca, boca apagada, uma expressão de vazio me rompeu o olhar quando me deparei comigo naquela hora daquela madrugada. Subi os dez andares e os ouvidos ainda zuniam dos sei lá quantos decibéis de música eletrônica flash back que insistiu em me fazer recordar a adolescência, o que contribuiu muito para minha pouca auto-estima permanecer exatamente onde estava naquela noite. Tomei um energético com bastante gelo. Fiquei estrategicamente posicionada, sem muita vontade de circular pelo local, mas na intenção de que fosse notada. Assim permaneci por trinta minutos. Saí, fui ao banheiro feminino, lotado de patéticas damas retocando a boca, rindo e comentando de diversos assuntos nos quais não tive atenção suficiente para relatar aqui. Desci as escadas do lugar. Resolvi sorrir. Sorri para o bar man, para o vizinho que casualmente estava lá, para o rapaz que me ofereceu uma bebida (mas logo me lembrei dos conselhos que minha mãe me dava quando eu era adolescente: “Não bebe no copo de ninguém porque eles colocam drogas!” Por isso apenas sorri e disse: Obrigada e fiz um sinal de recusa com a cabeça) Sorri para a direita, para a esquerda, para cima e para frente. Foi assim que conheci o rapaz. Sorrindo para minha frente estava ele lá, me olhando com cara de lobo mau faminto, louco pra me levar pra floresta e me devorar. Confesso que fiquei assustada, mas sorri, e assim continuei por algum tempo ao seu lado. Destreinada desta prática de flertar na balada (isso é fato, não é ficção) não sabia quando seria o momento mais apropriado para deixar acontecer o beijo, mas aconteceu. Simples, na hora certa, meio desastrado no começo e intenso no final. Foi um encontro digamos... casual e interessante. Já passava das duas horas quando o referido jovem, não tão jovem para os jovens se foi. Fiquei eu lá. Boa amiga permaneci onde estava para não estragar a noite daquela que se prontificou a me tirar de casa, quebrar minha rotina tediosa de férias na clausura do lar. Bebi uma cerveja, talvez duas. Observei as pessoas, adoro observar as pessoas. A música prosseguia alguns anos adiante e saltou para o ano em que me divorciei. Músicas tem esse poder. Trazem à memória da gente fatos, instantes, recordações e minha vida é uma trilha sonora... Aquela sensação de liberdade me trouxe um sentimento bom, mas em seguida a realidade se mostrou como o caçador da história da Chapeuzinho Vermelho, me salvou. Salvou-me do conto de fada. Não tem príncipe, nem cavalo, nem espada, nem dragões, não tem sequer um conflito, uma batalha, um sapatinho perdido, um sapo rei... Não há carruagens lá fora, nem fada-madrinha. Há apenas o ali, o aqui e o talvez. Há meu cão que me recebe na madrugada e me acompanha no banho necessariamente purificante. Há comprimidos de benzodiazepínicos, para casos como desta noite, onde a euforia se casou com o cansaço. Há meu quarto, minha cama limpa, a janela que vibra com o vento e o sol que quer apontar pra me mostrar que nasceu de novo.
O sol apontava quando adormeci. Meus sonhos... Nos meus sonhos tudo pode acontecer. São meus. E ao despertar me senti princesa esperando a carta-convite para o grande baile, aquele que o lobo mau aparece e dá um perdido no caçador!