quinta-feira, 25 de junho de 2009

Um cadilac amarelo para Andrea W.


Era um cadilac amarelo. Pelo menos foi assim que me contou, Andrea W.. O cadilac parou e ela entrou, no cadilac amarelo. Quem guiava era nada mais, nada menos que seu “ex”, (a pergunta que não quer calar – qual deles?) que em dado momento era alguém atual, nada passado, tudo presente. Eles conversavam e o cadilac os levava, o cadilac amarelo, para algum lugar. Para a grande surpresa de Andrea W., eles não estavam a sós no cadilac. O cadilac amarelo trazia alguém no banco de trás. Era um peso morto! Não defino assim por força de expressão, era realmente um morto. Isso causou a inconformação de Andrea W.. Onde já se viu transportar um morto! Isso é um serviço para um carro funerário. Não para um cadilac amarelo. Mas com a maior naturalidade, seu ex - em forma de atual - explicou que era apenas um transporte para que o morto pudesse ser enterrado em sua terra natal, a família aguardava ansiosa. Sendo assim, seguiram com o processo de despacho funerário no cadilac, no cadilac amarelo. O despacho propriamente dito era feito numa ampla, muito ampla, ampla mesmo, agência dos Correios e Telégrafos. Com o maior cuidado para que o defunto não se lascasse ou trincasse, mercadoria frágil. Para isso, Andrea W.,ser,sempre tão generoso, pra comprar metros e metros de plástico bolha e embalou com capricho o presunto para viagem, sem direito a freezer. Ficou estupefata com o preço exorbitante do sedex funesto que enviaria aquele que havia vindo do pó e ao pó voltaria. Irada sussurrou: - Enterre em qualquer lugar! Já morreu mesmo! Pra que tanto gasto e trabalho com um morto e ilustre desconhecido? Assim o peso/passado/morto seguiu selado, etiquetado e rotulado, foi despachado dessa pra melhor, ou pior. A estrada poderia ser seguida com ou sem o acompanhante do volante, bastava descer e seguir em frente. E desta maneira sumiria no horizonte rodoviário, o cadilac, o cadilac amarelo. Poderia ser um filme de David Lynch. Mas não, foi apenas um sonho de Andrea W.. não desses sonhos que se deseja, falo desses pesados, dos quais se acorda suado e sobressaltado de indigestão. Sonhos leves, doces e que são distribuídos gratuitamente, você pode encontrar em “Sonhos para Viagem”.

de César Póvero, (ousado narrador deste sonho não tão doce, mas com talento único em deixá-lo agri-doce!) Não deixe de conhecer: "Poeteria Crônica" cesar.povero.zip.net

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