quarta-feira, 28 de julho de 2010

Jardim do Ever

Venha, entre, encoste a porta. Agora é só você e eu. Una os pontos, escreva a letra, faça a canção. Desenhe nuvens, barquinho a vela no horizonte. Leve-me, leve... Sopre, aponte, ilumine. Diz-me um doce, me cante um nome, me incendeia a pele, me cheire, me desorganize. Cala minha boca e pese em mim o peso do seu corpo. Me orquestre, rege, embaralhe, espalhe e depois junte. Ache o ponto, aponte o infinito do amor em mim. Me trate, me alimente, me bifurque e norteie e  me jogue no céu. Derrube da noite as constelações... Me mostre Antares, Escorpião, me mostre outro céu... Aquele de outro continente, de frio, de abraço de saudade morta e estancada, sepultada para nunca mais acordar. Me diz que é assim e assim será. Que o jardim jamais morrerá e que o infinito é infinito e não acaba... Que o poeta era insano e que quando é amor, já é o fim ou o início do Jardim... Do Ever...


sábado, 17 de julho de 2010

Tempo


Havia algum tempo que se havia perdido a noção do tempo. Estava na embarcação por muitas luas. Não havia tempestade e o mar estava calmo. O céu estava escuro e a única luz que havia era  só mesmo a do luar. Ainda assim, cansada de esperar notícias, chegava-se ao convés todas as manhãs e todos os fins de tarde.Esperava avistar uma ilha, um bote, um grande navio, um pássaro no céu ou um anjo trombeteando, anunciando o fim de seu sofrimento. Nesta noite, venceu o medo da escuridão e se pôs a sonhar olhando para as estrelas. Podia-se avistar as constelações e ouvir o silêncio rompido pelas ondas. A embarcação dançava uma música lenta, acompanhando a lentidão dos pensamentos. A esperança ainda estava viva. Quase agonizando, mas viva. Sem perceber, confundiu-se com o cansaço e já não sabia se dormia ou sonhava acordada. Amanheceu. O sol brilhava e o céu estava azul. Sentia sede, muita sede. Levantou-se embriagada, sonolenta, fraca, alucinando uma paisagem seca, verde, úmida, povoada. Ansiava por um banho, por frutas frescas, por alimento quente. Percebeu a morte na solidão. Deitou-se novamente. Parou de perceber o tempo. Resolveu esvaziar as horas, limpou as mãos como podia. Suspirou e deixou o vento levar a embarcação, que certamente, hora ou outra, iria ser encontrada. Preferia pensar assim.