quarta-feira, 17 de junho de 2009

Destino...


Quando eu era menina, eu já chorava por causas desconhecidas e me emocionava com acontecimentos que não tinha a menor noção do que de fato significavam, se eram reais ou não. Meu pai costumava me cantar uma canção sobre um sabiá numa gaiola que fez um buraquinho e voou e deixou a menina triste chorando. Eu me emocionava com isso, de verdade. Parecia que era comigo, já sofria de um abandono inexplicável naquela época, parecia que profetizava algo...
Brincava de ser outra pessoa. Sempre, diariamente. Incorporava madames poderosas, mocinhas apaixonadas, velhinhas caducas, professora cheia de paciência e protagonizava com meu Manequinho ( um boneco que tinha pipi) uma mãe afetuosa que sempre estava grávida de uma menina... dava de mamar com meus próprios projetos de seios... Gostava de cantar, de dançar e de brincadeiras de rua: mamãe polenta, amarelinha, polícia-ladrão...
Deus se manifestou em minha vida pela primeira vez (que eu me lembre) aos 6 anos, uma loucura que se eu contar ninguém vai acreditar. Foi um lance no teto do meu quarto, entre os reflexos das luzes do abajour vermelhinho que minha mãe deixava aceso pra que eu não ficasse no escuro. Eu detestava escuridão. Lá eu falei com Jesus.
Estudei com freiras, época de ditadura, do amor livre, do desquite em série. Nem vi meus pais se separarem, nasci assim, com eles separados. Só algumas fotos me fazem acreditar que fui fruto de amor. No entanto, fui banhada de amor. Por ambos. Pai e mãe indiscutivelmente maravilhosos.
Nada mudou muito desde então. Continuo chorando em trilhas sonoras, em filmes, em cenas de novela, em notícias trágicas do Jornal Nacional. Brinco constantemente de ser outra pessoa, me tornei professora, amamentei meu filho...Tenho um casal, veio apenas em ordem inversa, a menina nasceu antes. Ao primeiro acorde de um samba, já saio no molejo, adoro dançar e danço sempre que tenho vontade!! Choro ainda certos abandonos que colecionei ao longo dos 38...quase 39 anos que vivo. Continuo falando com Deus, d i a r i a m e n t e, embora já não mais no teto do meu quarto.. . Aprendi a lhe dar com a escuridão, aprendi que meus pensamentos é que me iluminam. Ainda tenho sonhos, muitos, mas confesso que ando preferindo surpresas boas. Atenta, espero que cheguem.

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