sábado, 20 de fevereiro de 2010

Eu Perdôo...


Na sempre tentativa de fazer comédia, vou insistir uma vez mais.

Hoje, dia 18 de fevereiro, após um ano da primeira cirurgia, internei minha filha novamente, para uma segunda retirada de nódulos no pescoço. Não é novidade para os íntimos que ela teve câncer de tireóide no ano passado.

Ontem estava irritada com a vida, com raiva de um monte de coisas, nervosa e chorona. Como num impulso resolvi fazer algo para afastar meu nebuloso astral e trazer um pouco de paz para minha alma e esperança no amanhã. Peguei no meu case de DVDs o filme “O Segredo” e como se eu fosse prestar um concurso no dia seguinte, fiquei revendo alguns capítulos, sobretudo o que fala de saúde, de amor e de dinheiro.

Já havia assistido antes e tinha achado legalzinho, mas confesso que tudo que eu precisava na noite de ontem era ouvir aquilo tudo. E assim fui me deitar, após minha oração, repetindo mentalmente, frases como “pensamentos materializam coisas”, “você é aquilo que pensa”, etc. Também visualizei minha filha saudável, eu dirigindo um Fiat Idea vermelho zerinho e um homem lindo e carinhoso ao meu lado!!!

Acordei otimista e de bom humor e chegamos pontualmente ao hospital. Seguiu tudo calmo. Oramos agradecendo a cura, ao Dr. Gilson, a nossa Igreja com nossos irmãos de fé orando por nós. Ela entrou no centro cirúrgico e eu me mantive calma como jamais estive. Cri verdadeiramente que iria tudo correr muito bem. Como de fato correu.

Cerca de meia hora depois, estava na sala de espera do Centro Cirúrgico, quando chega uma querida amiga, que luta há algum tempo contra uma depressão decorrente de transtorno bipolar. Ouvindo seu drama e tentando imaginar o tamanho de seu sofrimento, falávamos de uma técnica de cura por impulsos eletromagnéticos. Ela já tentou vários tratamentos e se apega nesta última tentativa. Debatendo sobre o valor das sessões, efeitos colaterais e à fins, eis que se mete no assunto um sujeito nada nada conveniente. Penso eu, o que uma pessoa imagina ao iniciar o seguinte diálogo:

- Desculpa me meter (ai, lá vem, pensei), mas minha tia sofria desta depressão profunda. Tentou vários tratamentos e o último foi este que você está falando (ôba! um incentivo, comemorei). Olha moça, não adiantou nada. Ela agora tá internada, regrediu no tempo e se comporta como se tivesse 12 anos (puta que pariu, não acreditei). Sabe, primeiro ela parou de comer e foi definhando, ficou pequenininha, entrevada numa cama e aí, não teve jeito, tá numa clínica. (cala a boca imbecil!!!! mas não parou por aí... O que será que ele pensou que eu estava fazendo naquela sala? Esperando meu filho de uma cirurgia de fimose? Minha avó voltar de uma operação de varizes? Ou apenas passeando no hospital?) Minha tia piorou mesmo quando meu primo teve câncer. Ela cuidou dele, ele operou, aqui mesmo, neste hospital, mas não teve jeito, deu metástase... Rapaz novo, 20 anos... (cacete, cala a boca!!) Morreu em três meses. (neste momento, respirei e pensei num lindo jardim, cheio de borboletas)

Depois de despejar todo o otimismo e positividade do lindo testemunho edificante da história, o sujeito levantou-se, ajeitou as calças, enfiou seu note na mochila e encerrou o assunto:

-Mas não desiste não, viu moça! Deus é maior. (Jesus!!!, perdoa?????)

Na sua quase fatal ignorância, tudo o que sei é que Jesus perdoa. E eu também porque não iria deixar esta história passar em branco...

A amiga se foi. Tentei aquecer com outras palavras o coração dela, depois do banho de água do ártico que o cara deu. Minha filha voltou da cirurgia. Conversei com o médico. Ele retirou três nódulos, apenas um deles calcificado. Está limpa agora, vida normal sem tratamentos invasivos. É... Deus é MAIOR!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

BENJAMIN

Peço que não subestime meu ar compreensivo e minhas palavras mansas, que não questione meu silêncio, minha quietude. Por favor, não se acomode na minha aparência alegre e na minha voz altiva, na receptividade dos nossos diálogos. Há muitas coisas que não sei. Inclusive não sei se quero saber. Não sei se sei esperar, sei que não sei fazer de conta que não sei. Sei que a alegria da surpresa veio como uma prova de resistência e não sei se vou resistir. De qualquer forma, sei que o tempo é assim, hora bom ora ruim (até faz rima sem a gente querer). Há dias que queria estar em outro estado, geográfico e emocional... Embora longe, vendo apenas com imagens de resolução que põe em dúvida as aparentes belas fisionomias congeladas em anos, ainda assim, não esqueço o que já vi em outros tempos, em requinte de detalhes como sons, cheiros, gostos e iluminação. Apenas peço que não conte com minha meiguice e passividade. Senão, me esqueço que não sei se quero, não sei se espero e se espero inclusive que o tempo se mova. Posso mover-me de onde estou e desbancar todas as aparências Benjamin...