segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A seguir...

A seguir Friends! Foi o que disse minha TV. A claro informa que não há créditos suficientes. Meu filho diz que vai aprender a operar a bolsa de valores. Minha filha chora saudades de casa, lá de Minas Gerais. Minha balança mostra que ganho peso desparadamente. Meu cão olha a janela, pedindo um passeio. O relógio digital troca os números mais rápido parece... Nada de chuva. Dilma na frente. Purê de banana acompanha bem carnes variadas. Haverá restituição do imposto sindical. Entrei em crise com a profissão. A noite está chegando. Amanhã nasce outro dia, com o mesmo sol. As plantas continuam dispostas nos mesmos lugares da sala desde que me mudei.A vista da minha sala é linda. Meus amigos permanecem, novos amigos sempre são bemvindos. Gostaria de aprender algo novo. Quero um desafio. O sol já se pôs agorinha mesmo e começo a ver daqui a lua. A sala está escura, Friends já começou e a TV está rindo sozinha. Barulho no quarto. Noah olha fixamente pra mim. Continuo gostando de capuccino. Há coisas que não quero mudar. Gostar de capuccino, por exemplo. Amar meus filhos. Amar meu cão... O resto continua mudando, se movendo, passando. Amanhã sol novamente. Precisamos de chuva.Vou sair. Caminhar e amanhã... Talvez... Eu escreva mais.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um homem especial

Ele era pequeno para sua idade. Um pouco desnutrido talvez. Tinha um olhar triste e as mãos sempre frias. Gostava de ouvir histórias. Calado, ouvia tudo. Era de poucas palavras, de pouco riso. Ria, mas ria por dentro, como se tivesse medo da alegria. Gostava das noites de chuva. Não havia luz elétrica, o lampião ficava aceso. Buscava a madrugada sonhando acordado. Sonhava com sua mãe que nunca conheceu, nem mesmo por fotografia. Desenhava o rosto dela na sua imaginação, juntando informações de retratos falados. Ficava na dúvida da cor dos olhos. Alguém já havia lhe dito, mas ele não se lembrava e gostava de imaginá-la com olhos azuis, embora tivesse a certeza de que azuis não eram. No córrego soltava folhas secas, imaginando barcos. Às vezes engraxava sapatos na estação, para garantir alimento quando o dinheiro, que a avó recebia das senhoras para quem lavava roupas, acabava antes do mês. Toda segunda quinzena ele chegava as 5 na estação. Pegava os senhores que saiam no primeiro trem e, que faziam questão de enrolar o fumo na palha enquanto ele, cuidadoso e muitas vezes desastrado, tentava dar brilho com grande esforço nos calçados já envelhecidos. Cresceu assim, brincando de ser adulto, sonhando em ser menino. Quando se deparou com o tempo já havia passado muitas décadas. Havia um longo caminho percorrido, muitas vezes com o riso preso e outras com lágrimas soltas. Fora um bom homem, um bom pai, um bom patrão, hoje um bom avô, mas a vida não foi delicada com ele. Incrivelmente seu rosto é iluminado. Algumas rugas, cabelos brancos, corpo ainda magro e saudável. Possui uma encantadora doçura na alma. Com idéias já ultrapassadas da vida, mas olhos atentos às transformações das décadas, tenta acompanhar a era da globalização. Corre apressado para alcançá-la. Recorda emocionado seu passado, seus lugares, suas paisagens. Já não mostra medo da alegria, as vezes sorri alto, gargalhando, é quando volta a ser menino.