terça-feira, 21 de julho de 2009

Um caso de amor...


Fraquejei. Quando quis gastar apenas com um par de sapatos e comprei dois. Fraquejei por achar que ambos mereciam bolsas. Inverno merece perfume mais forte, maquiagem mais marcante e assim caminhei rumo a uma conhecida e elegante perfumaria. Casacos novos, dois. Deixei o terceiro de lado. Sucumbi à inveja ao abrir uma revista de moda, que não habituo comprar e foi apenas o acaso da tediante espera na sala do terapeuta que forçosamente me fez tocá-la, e me deparar com lindas mulheres ousando poses com botas, shorts e blusas decotadas. Rapidamente me questionei se não seria um exagero andar daquele jeito, justo eu que não mostrava os joelhos. Foi desta forma que fraquejei. Numa tarde de sexta-feira, fechei as abas do computador e fui às compras. Comprei dois deles (dos shorts), de uma só vez. Deixei as blusas de lado, preferi as botas. Uma preta e uma marrom, com mesclas douradas. (???!!!!) Agora eram quatro. Quatro pares de sapatos... Já havia comprado um sapato estilo retrô, salto alto, uma belezinha... Usaria com qual vestido? Foi outro preto para variar. E pérolas! Três colares de pérolas, sintéticas é claro. Além das tradicionais, também trouxe vermelhas e prateadas. Com isso, os brincos não ficaram de fora. E assim fui me presenteando, com a consciência da alta soma a ser gerada na fatura do cartão no mês seguinte. Certa culpa... Na verdade, muita culpa. Na semana seguinte nem fui à terapia. Morri de medo de ter que esperar pra ser atendida e abrir uma nova edição daquela tentadora revista. Na verdade, morri de medo de contar para o terapeuta à loucura que havia cometido. Não sou da classe social que pode gastar sem pensar. Definitivamente, não sou. Mas acho que a graça é exatamente essa. Indecifrável sensação se presentear assim. Depois da culpa a gente fala a perigosa e satisfatória frase: Eu mereço! Ficamos provando as roupas em frente ao espelho, tentando encontrar diversas combinações. Planejando em qual evento usaremos e se não há nada em vista, a gente inventa. Pega o celular e cria situações para usar e abusar do perfume, das roupas, dos casacos, dos sapatos e da bolsa charmosa (o duro é decidir qual das duas)... Lembrei da lingerie (como pude esquecer???) e sem fazer direito as contas orçamentárias do mês, vou à escolha de pelo menos um parzinho delicado de calcinha e sutiã, na dúvida entre as cores, levo dois. E assim ousamos. Fraquejamos, mas sempre nos perdoamos no final. Eterno caso de amor. De amor-próprio. Que tudo perdoa, tudo compreende e tudo suporta, ainda que mereça exaustivas horas extras no trabalho pra compensar!

Tirando a terapia e meu enorme amor-próprio, o restante do texto é ficção, mas confesso que já fraquejei muito nessas condições!! Crônica escrita para revista "Compre" São Paulo, segunda edição!

Um comentário: