Mudei de fase, mudei de estado civil, mudei o sobrenome, mudei a cor do batom, mudei meu perfume, mudei os cabelos, mudei de academia, mudei as roupas, mudei o manequim, mudei o caminho do trabalho, o salão de cabeleireiro, mudei a didática das aulas, mudei o ciclo menstrual, mudei a colcha da cama e os pedidos de oração...
De 42 para 44, 42 na idade, fase madura, Carolina Herrera de dia, Rihanna a noite, Martines no sobrenome, 21 em 21, batom vermelho e cabelos cacheados, aula digital, cama floral, academia de circuito, massagem corporal, salão da quadra debaixo, rodovia expressa para o trabalho, casada, amada, reconfigurada, novos pratos na cozinha, outras músicas, outros restaurantes, nova rotina, novos amigos, outros programas, outros problemas, outras resoluções. Repensei os decotes, o estilo, a altura do salto. Mais clássica, mais senhora, mais desperta, mais real.
Fantasia na festa a fantasia, nos sonhos dos filhos, na hora do amor, mas não mais nas pessoas, na política ou no sistema...
Enfim, chegou. Chegou o dia que a mudança se apresentaria, acompanhada da conformidade, da certeza, de um certo grau de elegância, com um pouco mais de moral, de lucidez, de chatices, de métodos, de cautela. Mudei. Temia não conseguir assumir novamente os cabelos, temia abandonar o manequim de moça... De biquini ao maiô. Da euforia a observação, do riso alto ao bom senso, da noite pro dia... Assim, num estalar de dedos, sem perceber, chegou...
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